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Produtores estimam reduzir área de trigo, mas alta dos preços e clima favorável podem reverter a dec
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Após dois anos consecutivos de colheita frustrada por problemas climáticos, os produtores de trigo do Rio Grande do Sul iniciam a nova safra com o desânimo expresso nas primeiras projeções de intenção de plantio. A estimativa inicial da Emater indica que os agricultores gaúchos semearão 766,9 mil hectares. Se o número for confirmado, será 13% abaixo do ano passado e a menor extensão desde 2006.
Além do rendimento, a qualidade do trigo colhido no Estado - fruto do excesso de chuva na reta final das duas últimas safras e geadas tardias - também foi motivo de decepção e ajuda a explicar o receio dos produtores em manterem a área. Mas ainda há tempo e razões para diminuir o pessimismo, avalia quem acompanha a principal cultura de inverno do Rio Grande do Sul.
O clima pode passar de vilão a aliado, caso se confirme uma primavera mais seca devido à previsão do fenômeno La Niña. Com isso, a própria Emater calcula que a produtividade pode chegar a 2,21 mil quilos por hectare, o que levaria o volume a ser colhido a 1,69 milhão de toneladas, 21,9% acima do ano passado. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por sua vez, espera 725,2 mil hectares, mas uma produção bem maior, de 1,97 milhão de toneladas.
Outro fator é o preço. Pouco menos de duas semanas atrás, o Ministério da Agricultura publicou portaria reajustando o preço mínimo do grão em 10,5% na região Sul a partir de julho. Para o trigo pão, tipo 1, o saco de 60 quilos passou de R$ 34,98 para R$ 38,65.
Devido à escassez, à expectativa de queda da área cultivada também no Paraná e à demanda do cereal para elaboração de rações, ainda na semana passada produtores começaram a notar reação nas cotações. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea Esalq-USP), até meados do mês, o preço médio do trigo ao longo de maio subiu 6,5% no Estado.
Para completar, os insumos como fertilizantes e defensivos também ficaram mais baratos nas últimas semanas. O movimento é atribuído tanto à valorização do real frente ao dólar quanto à necessidade de as empresas desovarem estoques. Juntos, os fatores poderiam reverter, em parte, a decisão de reduzir a área no Estado.
- Ainda mantemos a previsão de plantio entre 800 e 850 mil hectares. Nossa expectativa é de que voltemos a ter produtividade com qualidade, como em 2013, o que pode ser um indutor para aumento da área nos próximos anos - diz Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), que calcula uma redução no custo de formação da lavoura entre 6% e 7% nas últimas semanas.
Expectativa de maior qualidade em até 2 milhões de toneladas
Para a Safras & Mercado, a área plantada deste ciclo será de 850 mil hectares. Abaixo do ano passado, mas mais de 80 mil hectares acima da previsão inicial da Emater. Pelos números da consultoria, o Estado poderá chegar a uma produção de 2 milhões de toneladas. Ano passado foram 1,45 milhão, "mas 1 milhão de trigo ruim", lembra Bento.
- A única opção econômica de verdade para o inverno no Rio Grande do Sul é o trigo - ressalta o consultor Élcio Bento, lembrando que no Paraná, por exemplo, em regiões de clima não tão frio, o trigo vem sendo substituído pelo milho, grão que passa por um ciclo de cotações em alta.
Como a época de plantio do trigo vai até julho, ainda há tempo para o produtor repensar a intenção de diminuir área, observa Claudio Dóro, gerente regional adjunto da Emater em Passo Fundo. Nos últimos dias, revela, é possível perceber uma procura maior por sementes, outros insumos e até movimento nos bancos em busca de financiamento, como reflexo do estímulo dos preços.
- Isso é fruto da tomada de decisão de última hora - acredita Dóro, admitindo que a mudança pode levar a projeção de queda de área, de 13% no Estado, para entre 8% e 10%.
Apesar das dúvidas quanto ao resultado financeiro da cultura, também costumam ser argumentos favoráveis ao plantio do trigo outros fatores como a diluição de custos - com insumos, maquinário e mão de obra - na propriedade à espera da safra de verão, além do aproveitamento da adubação da terra.
Convicção mantida
Os resultados ruins nas duas últimas safras de trigo não abalam a convicção do agricultor Leandro Pagliarini, 47 anos. Produtor em Carazinho, ele mantém na propriedade que toca com o irmão a tradição familiar de mais de 50 anos dedicada ao grão de inverno. Este ano a área será reduzida para 260 hectares, ante 300 hectares ano passado, mas apenas por rotação de cultura, explica. Para Pagliarini, o papel do trigo vai além do retorno financeiro.
- No planejamento da propriedade e na parte agronômica, cobertura do solo e adubação, a cultura de inverno é de uma importância enorme. Se não perder já é um bom negócio - avalia o agricultor, enquanto nota que muitos vizinhos estão desanimados com a cultura e vão reduzir a área.
À exceção dos dois últimos anos, quando o clima diminuiu a produtividade e afetou a qualidade dos grãos, o histórico da propriedade é de rentabilidade no trigo, diz Pagliarini. Para esta safra, calcula que o ponto de equilíbrio é um rendimento de 50 sacas por hectare. Na última, foram 36. Na penúltima, 42. Em um ano normal, conta, o rendimento chega a 65 sacas por hectare, contabiliza o agricultor, que produz para a indústria e multiplica sementes.
Dúvida para os preços
Mesmo que a reação dos preços nos últimos dias seja considerada um fator que pode levar os agricultores a não reduzirem tanto a área este ano, o cenário para as cotações após a colheita ainda gera dúvidas. De um lado, há escassez hoje na oferta local e procura para fabricação de ração, em substituição ao milho. De outro, também é preciso esperar o resultado da safra no Paraná.
- A colheita do Paraná entra antes que a nossa. Os preços no Mercosul estão baixos, mas, por questões logísticas, os moinhos preferem comprar aqui. Quem colher 50 sacas por hectare este ano pode ter margem positiva - diz Hamilton Jardim, da Farsul.
Para Élcio Bento, da Safras & Mercado, o cenário interno hoje é de preços em alta devido à escassez, enquanto no mundo há pressão para baixo nas cotações. Um dos pontos de preocupação é a safra maior na Argentina, incentivada pelo fim da taxação sobre as exportações. O país vizinho deve colher 15 milhões de toneladas este ano, contra 11 milhões em 2015, projeta a consultoria
- Estamos com pouco trigo, mas as indústrias também estão sofrendo porque o consumo está caindo - pondera Bento.

Fonte: Zero Hora/http://www.canaldoprodutor.com.br/

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